20/10/2021

Exames genéticos detectam predisposição hereditária ao câncer colorretal

O câncer de intestino – também conhecido como câncer de cólon e reto ou colorretal – é mais comum do que se possa imaginar. É o segundo mais prevalente em mulheres e o terceiro em homens, sendo relacionado a hábitos de vida e também à predisposição genética. A incidência é discretamente maior na população masculina e a predominância está na faixa etária adulta, principalmente a partir dos 50 anos. Obesidade, alimentação rica em alimentos processados, baixa ingestão de fibra e alto consumo de carne e sedentarismo contribuem para o aumento da doença.

 

Saiba mais sobre as síndromes hereditárias que podem causar câncer de intestino, os principais sintomas de câncer colorretal, os tipos de exames genéticos para o diagnóstico do câncer, os principais tratamentos, genes relacionados à doença e como os testes genéticos podem auxiliar na prevenção de câncer de intestino com a geneticista Meire Batistela, coordenadora do Setor de Oncologia Molecular do Mantis Diagnósticos Avançados.


Síndromes relacionadas ao câncer de intestino

As principais síndromes genéticas relacionadas ao câncer de intestino hereditário são a Polipose Adenomatosa Familiar (PAF) e a Síndrome de Lynch, também conhecida como câncer colorretal hereditário não poliposo (HNPCC, do inglês Hereditary Non Polyposis Colorectal Cancer).

A Polipose Adenomatosa Familiar (PAF) é uma doença caracterizada por dezenas a milhares de adenomas (pólipos) no cólon e reto. Os pólipos geralmente começam a se desenvolver durante a infância e aumentam de tamanho e número até a adolescência. Aproximadamente 50% dos pacientes com PAF desenvolvem pólipos até os 15 anos, o que pode chegar a 95% aos 35 anos. A PAF pode progredir para câncer colorretal se não tratada. “Acredita-se que menos de 1% de todo o câncer colorretal seja devido à PAF, no entanto, indivíduos acometidos por essa síndrome também têm maior chance de desenvolver câncer em outros órgãos, incluindo estômago, intestino delgado, pâncreas e árvore biliar”, aponta Meire.

Já a Síndrome de Lynch, também conhecida como câncer colorretal hereditário sem polipose (HNPCC), é a causa mais comum de câncer colorretal hereditário, sendo responsável por quase 5% de todos os casos de câncer de intestino diagnosticados. Pessoas portadoras dessa síndrome possuem um risco de até 70% de desenvolver câncer colorretal antes dos 50 anos, assim como risco aumentado para o desenvolvimento de outros tipos de câncer, entre eles estômago, pâncreas, trato urinário, próstata, útero e ovário.

Principais sintomas do câncer colorretal

O câncer colorretal pode ser uma doença silenciosa, não apresentando sinais e sintomas em fases iniciais da doença, por isso a importância dos exames preventivos. O paciente que realiza a colonoscopia regularmente tem maiores chances de um diagnóstico precoce e maior eficácia no tratamento. Os sintomas mais frequentes quando presentes são:

. Mudança nos hábitos intestinais, como diarreia, prisão de ventre ou estreitamento das fezes, que dura mais do que alguns dias;

. Uma sensação de que você precisa evacuar mesmo após ter ido ao banheiro;

. Sangramento retal com sangue vermelho vivo;

. Sangue nas fezes, o que pode fazer com que pareçam marrom-escuras ou pretas;

. Cólicas ou dor abdominal (barriga);

. Fraqueza e fadiga;

. Perda de peso não intencional.


Exames genéticos dão o diagnóstico do câncer?

O diagnóstico do câncer colorretal é realizado pelo médico com auxílio dos exames laboratoriais de rotina voltados para essa finalidade. Os exames genéticos são um suporte para a escolha de tratamentos ou para identificar os pacientes com maior risco de câncer hereditário.

Formas de tratamento

Dependendo do estágio do câncer e de outros fatores, diferentes tipos de tratamento podem ser combinados ao mesmo tempo ou usados ​​um após o outro. Pessoas em estágios mais iniciais da doença geralmente têm a cirurgia como principal ou primeiro tratamento. Pacientes em estágio IV da doença (quando o câncer já se espalhou muito para tentar curá-lo com cirurgia) irão – a maioria – realizar o tratamento com quimioterapia e/ou drogas-alvo baseado em vias de alteração genética. Em outros casos, a radioterapia e imunoterapia também podem ser uma escolha para o tratamento.

Quais os principais genes relacionados a essas doenças?

“À medida que os pesquisadores aprendem mais sobre as mudanças nas células que causam o câncer colorretal, eles desenvolvem novos tipos de medicamentos capazes de agir diretamente nessas alterações ou em vias genéticas em que elas atuam (as chamadas drogas-alvo). Para que o medicamento seja eficaz, são necessários testes genéticos para avaliar se o paciente é ou não portador de alguma dessas mutações. Dependendo do resultado, o medicamento pode ou não ser indicado”, explica Dra. Meire Batistela.

Os principais genes pesquisados para essa finalidade são KRAS, NRAS e BRAF. Mutações em KRAS e NRAS impossibilitam o tratamento com anticorpos monoclonais anti-EGFR, enquanto que mutações em BRAF abrem uma nova opção de tratamento. Estes genes podem ser avaliados individualmente de maneira escalonada ou então em painéis genéticos tumorais maiores, no qual dezenas de genes são avaliados simultaneamente (como exemplo, temos o Cancer Hotspots).

A imunoterapia é o uso de medicamentos para ajudar o sistema imunológico de uma pessoa a reconhecer e destruir melhor as células tumorais. As células do câncer colorretal, assim como de outros tipos de tumor, possuem a capacidade de alterar algumas propriedades do sistema imunológico e utilizá-lo a seu favor, evitando serem atacadas. Os medicamentos chamados de inibidores de checkpoint, os imunoterápicos, visam restaurar a resposta imunológica contra as células do tumor. Essas drogas podem ser utilizadas em pessoas cujas células de câncer colorretal foram testadas positivas para alterações genéticas específicas, como um alto nível de instabilidade de microssatélites (MSI-H) ou alterações em um dos genes de reparo de DNA (PMS2, MSH6, MLH1 e MSH2).

Exames genéticos auxiliam na prevenção do câncer de intestino

Segundo a especialista, “Os exames genéticos germinativos – que podem ser realizados no sangue ou na saliva – possuem a finalidade de avaliar se o paciente herdou de um dos pais uma alteração genética que aumenta sua predisposição para um ou mais tipos de câncer. Alterações nos genes APC e MUTYH estão relacionados à Polipose Adenomatosa Familiar (PAF), enquanto que pacientes portadores da Síndrome de Lynch (HNPCC) normalmente possuem alterações herdadas nos genes PMS2, MSH6, MLH1, MSH2 ou EPCAM. Esses genes podem ser avaliados conjuntamente em painéis genéticos maiores (como o Painel de Câncer Hereditário) que, além do câncer colorretal, conseguem avaliar se o paciente possui predisposição a outros tipos de câncer hereditário mais comuns”.

O exame genético pode ser solicitado sempre que existir uma desconfiança por parte do médico de que o câncer do paciente pode ter origem familiar. Normalmente isto ocorre quando existem mais casos de câncer na família. O câncer em parentes próximos (de primeiro grau), como pais, irmãos e irmãs, é o mais preocupante. A identificação de alterações genéticas herdadas auxilia na prevenção e detecção precoce de tumores, pois nos casos positivos é aconselhado iniciar o rastreamento de rotina para câncer colorretal (e demais tipos de câncer relacionados à síndrome) em uma idade precoce, assim como realizar o rastreamento com mais frequência.

 

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